Um
padrão é algo que se repete, que tem uma
regra, uma lógica, uma conformação
definida.
Um padrão de comportamento é uma maneira de agir que sempre se
repete diante de situações semelhantes. Se você sempre "explode" à menor
contrariedade é porque criou um padrão de comportamento. Quando
se depara com algo que não saiu como você queria, "dispara" internamente
sempre a mesma reação.
Aprender é criar
padrões. Quando estamos diante de algo novo, dizemos
que nos é desconhecido. Não temos padrões
para aquilo. Procuramos então ligá-lo a algo
que já conhecemos, a um padrão existente.
Daí passamos a procurar compreendê-lo, passamos
a construir um padrão de repetição
que nos permita reconhecer este algo quando o virmos de
novo.
Você está visitando
uma feira de artesanato e observa um objeto estranho. É estranho
porque não pode associá-lo com exatidão à nada
que já conheça. Considera os elementos que
puder associar. Parece feito de barro, pela cor e superfície.
Você pega o objeto na mão. Seu peso confirma
a hipótese de barro. É ovalado, porque lhe
lembra o formato do ovo. Tem um furo. Faz tempo que você aprendeu
a reconhecer furos. Mas não dá para compreender
mais nada. Você pergunta ao vendedor. Ele coloca
o objeto na boca e assopra, produzindo um som. É um
instrumento musical. Você associa-o aos instrumentos
de sopro que conhece. Acabou de aprender, de criar um padrão.
Observa agora que no balcão existem outros objetos
de mesma cor, feitos de barro, com outros formatos. Todos
tem um furo. Todos são instrumentos musicais.
Perderíamos
muito tempo se tivessemos que perguntar ao vendedor o que é cada
um dos demais objetos que se parecem muito com este que
já sabemos o que é. Nossa inteligência
cria um padrão considerando os elementos principais
e os generaliza para agilizar as comparações
seguintes.
Pesquisadores
estão tendo um trabalhão danado na criação
de robôs que identificam objetos. Para que um robô se
locomova por uma sala terá que saber a diferença
entre uma porta e um banquinho. Que o banquinho, apesar
de ter quatro pernas e um tampo não é uma
mesa. Que uma porta desenhada na parede não leva à sala
ao lado. O robô terá que aprender que tais
e tais elementos compõem o padrão "porta".
Que há elementos mais significativos, genéricos
de todas as portas. Que há elementos secundários
próprios de cada porta. Terá que identificar
como porta um objeto que tenha os elementos que já "conhece" mesmo
que incorpore também outros novos. É muita
informação para um robô. Não é fácil.
Nossa
inteligência faz tudo isto e muito mais. Nossa educação
se incumbe de nos levar a criar padrões. Saimos
então generalizando e respondendo às novas
circunstâncias segundo os padrões já existentes.
Se
criamos um padrão sob forte tensão emocional
ele tende a fixar-se com mais facilidade. Isto também
acontece quando uma situação repete-se frequentemente.
Quanto mais ameaçadora for a situação
que determinou a criação do padrão,
mais ágil é seu acionamento, uma medida óbvia
de proteção. Para que esta agilidade seja
possível, teremos que utilizar como "detonadores" do
comportamento poucos elementos da situação.
Vamos
imaginar que uma criança tenha um pai extremamente
agressivo. Ele sempre olha de um determinado jeito quando
está muito bravo. A criança aprende que este
olhar é o sinal de perigo, portanto se torna o detonador
do comportamento de auto-proteção: se encolhe,
olha para baixo e procura ficar o mais quieta possível,
por exemplo. Quando adulta, encontra pela frente um chefe
que também tem um comportamento algo semelhante
ao de seu pai. Quando o chefe olhar daquele jeito detonará o
comportamento de auto-proteção no nosso personagem
que, como adulto, até poderia defender-se com segurança,
mas não o fará porque sua reação
(de auto-proteção) já estará automatizado.
Este é um exemplo simplificado. Na verdade, outros
sinais também serão considerados, mas todos
com sentido semelhante e sempre contribuindo para determinar
o comportamento de auto-proteção.
Para
modificar um padrão instalado precisamos perceber
que é um padrão automático. É preciso
usar a consciência para compreender que não
estamos avaliando a situação como algo novo à nossa
frente. Apenas reagimos como se fosse igualzinha àquela
que vivemos no passado.
A
mudança, portanto, exige "discriminação".
Se quisermos mudar de comportamento diante de uma situação
precisaremos percebê-la como nova, sem referencial,
sem padrões já existentes. Dizemos que as
crianças são livres e os adultos não.
A criança sente-se mais livre porque não
tem tantos padrões que determinam seus comportamentos.
Em compensação, a criança corre mais
riscos que o adulto, erra com mais frequência, até que
automatiza suas decisões, aprendendo e tornando-se
adulta.
Se
a idéia de liberdade total o atrair, prepare-se
para ter muito trabalho. Cada situação será nova,
e você terá que decidir cada gesto, cada ação.
Acho
mais interessante, e econômico, ser "escravo" dos
padrões que funcionam bem e livre para mudar o que
não funciona.
Se
desejar mudar um comportamento, não tente se colocar
como uma criança imaginando que está diante
de uma situação nova. Seu sistema de auto-proteção
não permitirá. É muito mais fácil,
e natural, prestar atenção, tomar consciência.
Observe os sinais que detonam seu velho comportamento.
Perceba como estes sinais estiveram presentes em sua história
e como, em função deles, padronizou este
comportamento. Compare os fatos ocorridos no passado, em
sua história, com o atual, que está vivendo
agora. A mudança virá automaticamente quando
compreender que a situação atual não é uma
repetição pura e simples do passado.
Se
você perceber que se intimida com o olhar agressivo
do chefe. Lembrar-se do olhar semelhante do seu pai, e
se der conta de que são situações
diferentes e que até mesmo você já é diferente,
seu instinto fará o resto.
Este
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